domingo, 2 de setembro de 2012

SAÚDE

Oglobo

O risco de pecar pelo excesso

RIO - Em tempo de rápidos avanços tecnológicos, para tudo parece haver um novo exame, uma nova droga ou um nova cirurgia que resolva qualquer doença. A tendência é pensar que pecar pelo excesso é ter a certeza de que todas as chances de sucesso foram testadas. Mas este comportamento, que tem aumentado o número de prescrições, pode trazer riscos ao paciente, exposto a exames e procedimentos invasivos e, muitas vezes, desnecessários.Para se ter ideia, o Instituto do Coração da UFRJ compilou dados do Datasus 2011 referentes a exames e procedimentos cardíacos, e os números são alarmantes. 

Em dez anos, houve aumento de 500% das coronariografias (exame das artérias coronárias), chegando a 120 mil em 2010. No estado do Rio, a situação é mais preocupante: o crescimento foi de 800% em sete anos, atingindo 9 mil prescrições. Já a angioplastia (cirurgia de desobstrução da artéria) cresceu 55% em cinco anos no Brasil, e chegou a 56 mil em 2010. O aumento no estado foi de 100%, e agora registra 3,8 mil.

Enquanto isto, a taxa de coronariografias normais no Brasil é de 60%. Segundo o diretor do Instituto do Coração da UFRJ, o professor de cardiologia Nelson Souza Silva, o índice aceitável seria de 15%. Ou seja, estão sendo prescritos mais exames do que o adequado.

— Há 20 anos, o índice era de 15%, porque o médico era mais cuidadoso. Hoje, os exames e os procedimentos estão muito mais à mão, mas seu uso abusivo é maléfico. 

Exercício físico e dieta ainda são as melhores prescrições — afirma Souza Silva, que citou o exemplo do stent cardíaco. — A última revisão sistemática apontou não haver redução de mortalidade e, mesmo assim, foram feitas mais de 1 milhão de aplicações nos Estados Unidos. O procedimento tem risco de morte de 1,5%.

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