Dinheiro público e Copa
A própria preparação esportiva não tem merecido — esta, sim, mereceria — atenção maior, como demonstrou a medíocre performance dos nossos atletas em Londres, onde apenas o vôlei, em que somos potência tradicional, teve desempenho digno, nas quatro modalidades que disputamos com medalhas em todas elas. Destacaram-se, ainda, talentos isolados, decorrentes mais do esforço pessoal do que de apoio técnico-governamental. A seleção de futebol, "sensação do torneio", teve que se contentar com uma medíocre atuação na final e sem o ouro.
Preferiria que o Brasil gastasse mais em todas as suas indiscutíveis necessidades e investisse, aí, sim, se justifica dinheiro público, no aperfeiçoamento do esporte (futebol e outras modalidades), do que gastar recursos públicos em obras faraônicas, que poderão se transformar em monumentos inúteis.
Os 15 dias de cada evento estão levando o Brasil a deixar de lado o que é mais relevante e deseja há muito mais tempo (reformas política, tributária, trabalhista e administrativa). É preciso repensar o modelo. A receita tributária tem sido gerida pelo Estado "pro domo sua", e não em prol das verdadeiras necessidades de um país, cuja renda per capita não condiz com a de muitas nações de PIB consideravelmente menor e não desenvolvidas. Tanto assim é que 35% da riqueza nacional são usados, todos os anos, para custear uma máquina burocrática esclerosada.
Enfim, os holofotes destas duas quinzenas de eventos não justificam, a meu ver, tantos desvios de enfoque e tanta protelação de projetos prioritários para o bem do país.
* Ives Gandra da Silva Martins é jurista. -- ivesgandra@gandramartins.adv.br
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