quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ASPARGO

Oglobo

O poder afrodisíaco do aspargo

Creme de aspargos verdes com shitake servido no decanter (R$ 24), no Pax Delícia do Lagoon Foto: Divulgação / Sérgio Pagano

RIO - Madame de Pompadour, a famosa amante do rei Luiz XV, sabia das coisas. Grande apreciadora de champanhe, é creditada a ela a criação de um prato à base de aspargo, que, assim como a bebida, é considerado afrodisíaco. Seria esse um dos segredos de Pompadour para seduzir o rei?

A fama do aspargo como instrumento de prazer é ainda mais antiga. Ele aparece nos contos de “As Mil e Uma Noites”. No século XVII, o botânico Nicholas Culpeper escreveu que o aspargo “atiça a luxúria no homem e na mulher”. O rei Luís XIV, que passou o trono para o bisneto que se tornaria amante de Pompadour, tinha estufas dedicadas ao cultivo da hortaliça. Reza a lenda que, no século XIX, casais de noivos participavam de cursos de preparo de aspargos como parte do treinamento para as noites do casamento.

Não se sabe o que é verdade e ficção, mas, segundo a nutricionista Lucianna Jardim, mestre em Ciência dos Alimentos pela UFRJ, o aspargo figura mesmo na lista dos alimentos afrodisíacos. Madame de Pompadour não tinha nada de boba

— Não há comprovação científica de que algum alimento possa despertar estímulos sexuais. O que existe são alimentos que têm nutrientes importantes para um bom desempenho sexual. O aspargo é rico em vitamina B3 (que promove a vasodilatação, melhorando a circulação e a ereção do pênis) e em magnésio (importante para a produção de serotonina, o hormônio do bem-estar, que é fundamental para a libido).

O próprio formato fálico do aspargo já induz a pensamentos maliciosos. Tanto que a hortaliça tem estrelado campanhas publicitárias com um quê sexual. O comercial da ONG PETA (sigla em inglês para “Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais”), que mostrava modelos de lingerie se masturbando com legumes e verduras, foi tirada do ar pela rede americana NBC. Na propaganda censurada, o aspargo ganhou mais destaque do que a abóbora e o brócolis — que também ilustram o filme para a TV — ao ser eleito para a foto da campanha, batizada de “Veggie Love”, que busca convencer a população a abandonar o consumo de carne, defendendo que os vegetarianos têm um sexo melhor.

Na capa da revista americana “Newsweek”, que elegia os 101 melhores lugares do mundo para comer, lá estava o aspargo de novo, sendo ingerido por uma boca feminina, vermelha e sensual. Representação mais fálica impossível. A fotografia, inclusive, causou polêmica por ser de um banco de imagens e já ter sido estampada na capa de outra publicação, a inglesa “Observer Food Monthly”, em 2008.

Independentemente do quê sexual, o aspargo é um ingrediente queridinho dos nossos chefs. Nos restaurantes do Rio, há opções como a salada de aspargos com manga, palmito e vinagrete de mostarda do Salatteria & Co. No Terzetto, há opções de entrada e prato principal, como a combinação de aspargos verdes com ovo de codorna, perfumada com trufa, o duo de filé de peixe com aspargos e risoto de frutos do mar, e os camarões no vapor com aspargos, vinho e ervas servido com risoto de limão. E há também as versões espanholas. O Venga! serve duas: o aspargo a la plancha, receita de aspargos grelhados, ovo pochê com azeite trufado e crisps de presunto serrano, e a brocheta de aspargo, um espetinho de aspargos enrolados em presunto serrano com vinagrete de Jerez.

O motivo que levou os donos do Aspargus (com U mesmo) a batizarem o restaurante com o nome da hortaliça não chega a ser especial. Ribamar Aragão, um dos sócios da casa, conta que no início dos anos 1990 estava na moda colocar nomes de ingredientes nos estabelecimentos. Daí veio o Aspargus. Também é dessa safra o Alcaparra, restaurante no Flamengo.

— Tem um cliente que só vem aqui para comer risoto de aspargo. E ele sempre exige o fresco. Se, por acaso, nós não temos, ele me dá até bronca, dizendo “como vocês não têm o produto que dá nome à casa?”. Acho que ele sabe que é afrodisíaco — brinca o gerente, Almir Sousa.

O chef Marcones Deus, responsável pelo Pax Delícia do Lagoon, também utiliza o ingrediente na composição de pratos e no coquetel de cogumelos. Sua última criação é o creme de aspargos verdes com shiitake, que é servido no decanter.

— Hoje, o aspargo é o substituto do brócolis no sabor e na textura. Sempre que penso em fazer alguma coisa com brócolis, acabo indo para o aspargo — diz ele, que recomenda o creme de aspargos para as noites de amor, já que é um prato leve. — Se combinado com ostras frias temperadas então...

Marcones conta que a novidade do momento é o aspargo verde em conserva. O branco, que é privado de luz durante o crescimento e só costumava ser encontrado engarrafado no Brasil, já pode ser encontrado fresco até nos supermercados.

Outra aficcionada pela hortaliça é a estilista Leda Zuccarelli. Tanto que deu à sua grife de roupas, que está no mercado carioca há mais de 30 anos, o nome de Aspargus. A paixão é tamanha que ela coleciona fotos da hortaliça e garante que a melhor que já comeu — e repete regularmente — é a feita pela empregada, cozida no vapor e acompanhada de molho vinagrete. Leda diz, no entanto, que não sabia dos efeitos afrodisíacos da planta:

— Agora, vou prestar atenção — brinca Leda, indagando em seguida: — Será que no “Cinquenta tons de cinza” tem aspargo?

Se não tiver, fica a dica para as possíveis continuações do best-seller.


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