Brasileiro não busca união de forças para garantir direitos, diz pesquisa
RIO — Entre 23 e 28 de setembro, o site da Defesa do Consumidor lançou sua primeira enquete perguntando aos internautas se eram associados à alguma entidade que busca garantir direitos coletivos. Participaram da pesquisa de opinião cerca de 700 leitores. A maioria (58%) disse não fazer parte desse tipo de instituição, mas quase metade dos participantes (43%) declarou ser associado ou ter a intenção de se associar. O resultado foi considerado significativo pelas principais associações de consumidores do país.
Carlos Tadeu de Oliveira, gerente-técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), destacou que “pesquisa de opinião não revela o ato” do participante. Segundo ele, considerando que os participantes já são interessados no tema direito do consumidor, o número dos que pretendem se associar (21%) a alguma instituição deveria ser bem maior:
— É um dado que não se concretiza na prática. O número bruto parece grande, mas, olhando mais de perto, ele podia ser muito maior, visto que quem foi até a página (responder à enquete) já conhece o tema. Vivemos uma situação em que as pessoas querem consumir mais, porém, não têm o hábito de reclamar. Primeiro, elas têm de se acostumar a reclamar. Depois, precisam ter a noção de que fazer essa reclamação em conjunto é melhor ainda — afirma Carlos Tadeu.
Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste — Associação de Consumidores, acredita que para mobilizar o consumidor, as entidades têm de mostrar os resultados do trabalho realizado:
— As associações têm de atuar de forma que (o consumidor) se sinta respaldado por elas, e que elas sejam realmente sua voz para batalhar por mais conquistas e resolver seus problemas de consumo. Ele só vai aderir se sentir que vale a pena se unir com outros consumidores para fortalecer a luta e avançar sempre nas relações de consumo, com respeito aos direitos — destaca Maria Inês.
Questões culturais e econômicas são obstáculos
Representantes das duas maiores associações de defesa do consumidor no país, tanto Carlos Tadeu, do Idec, quanto Maria Inês Dolci, da Proteste, ressaltam a importância de ampliar a comunicação com os consumidores para incentivá-los a se mobilizar em prol da garantia de seus direitos.
Maria Inês lembra que “a importância de se aderir a uma entidade da sociedade civil é que elas atuam de forma independente e possibilitam o acesso a informações voltadas às necessidades do consumidor”. Segundo ela, com a ajuda das entidades o consumidor se torna mais consciente para fazer escolhas adequadas.
Questões culturais e econômicas do cenário brasileiro são apontadas por Carlos Tadeu de Oliveira como obstáculos à ampliação da adesão a entidades de defesa do consumidor:
— O consumidor no Brasil não tem tradição de associativismo. E a há questão da renda. Associar-se a uma entidade tem um custo. E as pessoas ainda estão priorizando a aquisição de produtos. Não destinam uma parte da renda mensal para uma causa — diz o representenate do Idec.
Vivendo no Brasil há 16 anos, o francês Cédric Gottesmann, diretor do teatro Maison de France, no Rio, reflete a cultura europeia em relação ao assunto. Ele associou-se a uma entidade de defesa do consumidor assim que se instalou no país:
— Na França, há pelo menos duas grandes revistas que tratam dessa questão. Acho muito importante ser associado, recebo uma publicação mensal com diversas orientações e já resolvi algumas questões com o apoio da entidade — conta.
Na Europa, a organização Consumers International reúne diversas associações, seguindo um modelo de federação, e é referência mundial. Nos Estados Unidos, a Consumers Union tem 5 milhões de associados. Na América do Sul, a tradição de unir forças para garantir direitos é observada, principalmente, na Argentina, no Chile e no Uruguai, enquanto na Ásia, a Coreia do Sul tem uma ministra responsável pela questão do consumidor.
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