PT considera inevitável investigação contra Lula
BRASÍLIA Com as novas acusações feitas por Marcos Valério, operador do mensalão, em depoimento dado em setembro ao Ministério Público, dirigentes do PT e fontes palacianas, inclusive os mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consideram nos bastidores que será inevitável uma investigação contra ele.
Para enfrentar os escândalos dos últimos meses, Lula disse a amigos que sua ação de defesa mais enfática começará em fevereiro ou março de 2013, quando voltará a fazer pelo país as caravanas que ficaram famosas em suas primeiras campanhas ao Palácio do Planalto. O ex-presidente considera que a melhor forma de responder às acusações é conversar diretamente com o povo e defender o seu legado.
Diante da crise política que vem minando a imagem do ex-presidente, o PT também aposta que a reedição das caravanas, com o esperado fortalecimento do apoio popular, pode blindar Lula do ataque da oposição e ajudar o partido. O sinal vermelho no “QG Lulista” foi aceso após o último escândalo envolvendo Lula, o da Operação Porto Seguro, que indiciou Rosemary Noronha, ex-funcionária da Presidência da República em São Paulo e próxima ao ex-presidente.
Este episódio soma-se ao julgamento do mensalão, que provoca sério desgaste a Lula e ao PT, e, agora, a seus desdobramentos, como o novo depoimento de Marcos Valério — ele sustenta, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, que Lula sabia do esquema e teve contas pessoais pagas por ele.
Candidatura de lula em 2014 fora dos planos
Segundo interlocutores do ex-presidente, ele quer muito levar adiante o projeto das caravanas, para resgatar sua imagem. A ideia é mostrar que se trata do “mesmo Lulinha de antes” e defender uma perspectiva de futuro, já que o núcleo petista admite que o partido sai avariado das sucessivas denúncias e escândalos. Com a retomada das viagens, que Lula empreendeu pela primeira vez durante os anos 1990, pretende-se conseguir uma mobilização popular para manter alta a aprovação do ex-presidente e fortalecê-lo como cabo eleitoral do partido.
Essas mesmas fontes, que têm contatos frequentes com o ex-presidente, afirmam que não há hipótese de Lula ser candidato a presidente em 2014. Com as caravanas, o seu intuito seria somente o de consertar o estrago em sua imagem durante este ano, considerado “duro politicamente”, para continuar sendo eficiente como “garoto propaganda” do PT e do grupo aliado.
Muitas desses interlocutores de Lula já estão defendendo, reservadamente, que o PT abra mão da cabeça de chapa da disputa presidencial de 2018, embora seja ainda enorme no partido a resistência a essa tese. O próprio Lula, em conversas com seu grupo e com a presidente Dilma Rousseff, reconhece que o PT chegará desgastado em 2018 — já se levando em conta a eventual reeleição de Dilma em 2014.
Com a crescente preocupação de petistas a respeito dos movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dirigentes petistas já trataram com Lula a ideia de que o presidente de honra do PSB — um aliado histórico do PT — já deve ter uma sinalização de que, no campo governista, terá preferência em 2018. É uma forma, dizem os petistas, de impedir desde já que o PSB leve adiante o projeto de candidatura própria ou caia nos braços da oposição, e se mantenha no apoio à reeleição da presidente Dilma.
Negociação com psb pode afastar PMDB
A intenção de Lula seria, segundo seus amigos no PT, promover uma forte, mas ainda discreta, negociação com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para que ele permaneça aliado em 2014, com perspectiva de poder em 2018. É também um sinal de que pode haver distanciamento do PMDB, que já anunciou projeto de candidatura própria em 2018.
No núcleo mais próximo a Lula e Dilma, avalia-se que a alternância do poder com o PSB seria mais natural, o que poderia ajudar a renovar o projeto do PT — comprometido pelo impacto de denúncias de corrupção e pelo longo tempo de permanência à frente do Palácio do Planalto.
Os planos de Lula — retomar as chamadas “caravanas da cidadania” e articular alianças para eleições — foram expostos por ele em conversas recentes com os companheiros de partido e, estrategicamente, vem sendo comentados em rodas políticas. Soam como um aviso aos opositores de que Lula não vai se abater facilmente e pretende explorar seu capital político, fortalecendo sua popularidade.
Mesmo com todos os desmentidos enfáticos de petistas, é grande a preocupação no núcleo do governo e do PT com as novas declarações do operador do mensalão ao Ministério Público. Mais até do que o escândalo anterior, que envolveu a funcionária de confiança de Lula em São Paulo.
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