terça-feira, 24 de maio de 2011

POBRES PETISTAS HONESTOS

Por Ethevaldo Siqueira


Tenho a impressão de que os petistas honestos são minoria. Mas, é claro, eles existem. Conheço pelo menos dois deles, idealistas, daqueles que, em 1980, ano da fundação do PT, acreditavam como eu (mas que hoje, diferentemente de mim, ainda continuam acreditando) que o novo partido seria um padrão de ética, de moralidade e patriotismo.
Estou com profunda pena deles, porque andam cabisbaixos, em silêncio, envergonhados. A esses sofredores dedico estas reflexões, que não são apenas minhas, mas também do ex-governador Alberto Goldman e, temos certeza, de milhões de outros brasileiros, a cada dia mais preocupados com a desfaçatez que toma conta do País.
A maioria dos representantes da base governamental no Congresso está profundamente empenhada na Operação Abafa. Outros mobilizaram até Paulo Maluf para defender Palocci. Nunca pensei que aquele partido, que parecia diferente de todos os demais, provasse agora ser pior do que todos os demais. Digo-lhes, com toda a sinceridade, que a minoria petista e honrada não merecia esse destino.
Cada dia que passa aumenta minha admiração pelo caseiro Francenildo, que, em sua sinceridade, ainda pergunta: “Por que ele (Palocci) não explicou de onde veio o dinheiro? Na minha época eu tive de explicar”.
Referimo-nos a Fracenildo Costa, caseiro da alegre mansão de Brasília frequentada por Palocci e a turma de Ribeirão Preto, e que foi obrigado a explicar a origem do dinheiro depositado em sua conta bancária.
“O povo brasileiro produz figuras maravilhosas como essa de um simples caseiro; ainda bem, um sopro de ar puro para dissipar nosso pessimismo com o ser humano”, escreveu hoje (23 de maio de 2011) em seu blog o ex-deputado federal e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman.
Para ele, participar de qualquer negócio privado, enquanto exerce o mandato de deputado, é perfeitamente lícito. A lei acolhe essa conduta. Entretanto, o caso Palocci não se esgota em uma análise da legalidade.
Palocci não é uma figura qualquer. Foi o todo poderoso ministro da Economia, mandou e ainda mandava, quando do último período de governo Lula, numa ampla parcela daquela administração, aliás, que ele mesmo havia indicado no exercício de suas funções de ministro. Foi o coordenador da campanha da Dilma e, por tudo isso mesmo, foi escolhido como chefe da Casa Civil do novo governo.
Ao fazer o papel de consultor privado nesses últimos anos não apenas usou de seus conhecimentos adquiridos, o que seria legal e moralmente aceitável, mas usou de sua influência sobre um governo que, mesmo fora dele, ainda em parte comandava.
Fez, no papel de deputado e de líder de fato do governo Lula, tráfico de influência. A não ser que os serviços que prestou por meio de sua empresa nada tenham a ver com o governo federal. Para isso deve informar para quem prestou os serviços e quais foram. Caso contrário, não haverá dúvidas quanto à sua conduta aética.

Enriquecimento assim, tão rápido, dessa forma, não é aceitável em um homem público que hoje dirige o mais importante ministério do governo Dilma.
Alberto Goldman explica sua posição: “Sempre fui contra qualquer pré-julgamento. Não se deve condenar ninguém antes do devido processo legal. Muito menos execrá-lo antes de termos a certeza de sua culpa. E ainda assim, para cada crime existe uma pena. E a execração pública não é algo que me seduz”.

No caso do Palocci, concordo plenamente, é preciso dar um tempo para uma investigação justa. Mas a investigação é necessária, não se pode aceitar o Gilberto Carvalho dizendo “o caso está encerrado”. É uma tentativa de proteção inaceitável, como os demais mal feitos em diversas ocasiões no governo federal.
A conclusão de Goldman é cristalina: “Porém, não podemos esquecer que Palocci cometeu um crime indiscutível, sobre o qual não está sendo penalizado: acusou e destruiu a vida do caseiro Francelino. Cristianizou-o sem que ele tivesse qualquer culpa. Execrou-o de forma definitiva, destruiu a sua possibilidade de continuar a ter uma vida normal. Para mim, isso já basta para definir o caráter do ministro. E não o desculpo, de forma nenhuma”.

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