sábado, 16 de julho de 2011

RECICLAGEM

Usina de Reciclagem do Cajú. Foto Marco Antonio Cavalcanti / Agência O Globo
O Globo
Compostagem de lixo do Rio pode gerar 4.500 toneladas de adubo e energia necessária para abastecer 25 mil residências






RIO - Uma parceria da prefeitura com a Ceasa e a rede Hortifruti está dando um destino nobre à parcela orgânica do lixo carioca. Com o acordo, ganha fôlego a compostagem - processo de transformação de rejeitos como folhas, galhos e restos de alimento em uma espécie de adubo - feita na Usina de Transferência e Reciclagem do Caju, na Zona Portuária. 

Nos últimos quatro anos, a compostagem aumentou em 166%, passando de 150 toneladas por mês para as atuais 400 toneladas. Em vez de se perder em aterros e lixões, o composto final, chamado de Fertilurb, vem sendo usado para os reflorestamentos de morros e encostas. Mas há ainda um enorme potencial inexplorado: a ideia da Comlurb é atingir a produção de até 4.500 toneladas/mês de composto. Além de adubo, o benefício geraria energia em uma unidade de até 10 MW de potência instalada, o que equivale ao abastecimento de 25 mil residências.

A Usina do Caju recebe, por mês, cerca de 7 mil toneladas de lixo, vindos da Zona Sul, Centro e parte da Zona Norte - ou cerca de 9% do total de dejetos produzidos por estas regiões. A unidade conta com duas linhas de maquinários destinadas à separação do lixo, para posterior reciclagem. Mas apenas uma funciona. Em turno que vai das 7h30m às 17h, 110 cooperativados separam o material reciclável. A parte orgânica tem duas destinações: ou vai se transformar em combustível derivado dos resíduos (CDR) na Usina Verde da UFRJ; ou vai para a compostagem, um processo que demora de 45 a 60 dias e conta a decomposição por bactérias.

- O CDR, constituído de rejeitos de maior poder calorífico, é usado como combustível de fornos de incineração, que gera vapor para movimentar turbinas, gerando energia elétrica. E o Fertilurb serve de espécie de adubo para o reflorestamento. Só não chamamos de abubo porque lhe falta todos os componentes químicos que caracterizam os fertilizantes. A Ceasa e os hortifrutis nos mandam os restos orgânicos para beneficiamento - explica o gerente da usina, José Emídio de Araújo Neto. - Temos potencial para ampliar para 520 trabalhadores cooperativados, garantindo uma destinação mais adequada ao composto orgânico. Custa pouco colocar em funcionamento, mas é preciso ver a viabilidade, fechar parcerias.

O composto orgânico já está sendo usado no programa de plantio de topos de morros da cidade. No Morro dos Macacos e do Pau da Bandeira, em Vila Isabel, o produto serve para dar força às 115 mil mudas que estão sendo plantadas.

- Em cada muda, usamos cerca de 15 litros de composto. Ele ajuda no processo de crescimento da planta, pois retém água e enriquece o solo, com nutrientes - explica a engenheira florestal do projeto, Camila Vital.

EBX, de Eike Batista, tem interesse na usina

Para o processo deslanchar de vez na Usina do Caju, a Comlurb planeja transformar a unidade em um polo de desenvolvimento tecnológico no tratamento de lixo. A EBX, empresa de Eike Batista, já manifestou o interesse em construir um incinerador na unidade. No momento, está sendo feito um estudo de viabilidade técnico-econômica.

Enquanto planos mais ambiciosos não saem do papel, os trabalhadores da usina sobrevivem com renda de cerca de R$ 700 por mês. Moradora da favela Parque Alegria, ao lado da unidade, Maria Luzinete da Silva, de 36, atua há um ano na Cooperativa Transformando.
- As coisas têm melhorado. Antes, só tirávamos R$ 50 por mês. Agora há mais transparência. Não tenho vergonha em trabalhar no lixo. Nesta vida só não tenho coragem de roubar e me prostituir.

A cooperativa tem uma lista de espera de 400 pessoas. A maioria mulheres jovens de comunidades pobres do Caju.

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