segunda-feira, 11 de julho de 2011

O MUNDO DA BOLA

Woden Madruga



Na semana que findou, o mundo da bola teve um desempenho exemplar em alta velocidade. Muitas emoções nas curvas de Brasília. Culminou com a queda do ministro dos Transportes. Pelo que se lê nos jornais, pelo que mostra a televisão, pelo pipocar na internet, comparando-se as cifras vultosas que enfeitam o novo escândalo de Brasília a tropa do ex-ministro Antônio Palocci não pega o time juvenil do colega Alfredo Nascimento. O filho do ex-ministro dos Transportes, de apenas 27 anos, venturoso arquiteto, teve o seu patrimônio aumentado em mais de 80 mil por cento. Cauteloso, o rapaz montou o seu balcão na sede do Dnit, em São Paulo, certamente com varanda gurmê aberta para o Viaduto do Chá. 


O cronista remoía esses acontecimentos federais quando percebeu na sua bacia das almas, boas novas vindas das cerrados de Tocantins. Mestre Florentino Vereda, de olho nas bolas (como tem bola!) na Copa do Mundo, made in Fifa e made in CBF, usa sua lupa para descobrir os mistérios da Geometria, tentando, a partir dessa configuração, arrumar metáforas que o levam a encaixar o grande acontecimento esportivo internacional com o mundo real que se estrebucha entre as dunas de Natal, a aldeia de Poti mais tola. Confira o sutil toque de bola de Vereda, nosso ilustre botânico acampado há anos nas matas ralas do Jalapão, onde desenvolve um trabalho sobre o DNA da mangabeira (Hancornia speciosa Gomes):


Ora bolas


Depois do triângulo das bermudas, a figura geométrica que mais fascina os homens é a esfera. Desde quando, olhando o céu, imaginava que seria aquela bola luminosa que surgia em espaços regulares de tempo, acordava os pássaros, desfazia a neblina e afastava as sombras para, algum tempo depois, descambar pelo outro lado e sumir, como acontecia cotidiariamente. Jovens enamorados, à luz prateada de outra bola espacial, diziam loas às suas amadas tentando levá-las ao leito de prazeres. Elas, por sua vez, nem lhes davam bolas.


Ainda hoje vivemos sob o domínio da bola. Alguns dos mais populares esportes jamais poderiam ser disputados sem a bola. Tênis, golf, beisebol, voleibol, basquete e, para nós brasileiros, o maior de todos: o FUTEBOL. Tão importante é o esporte bretão na nossa cultura, que até mesmo a bandeira reveste-se de simbolismos alheios à percepção dos leigos. Em recente trabalho - ainda não publicado - o professor Axel Geburt faz uma releitura do nosso estandarte, decompondo-o em figuras, cores e palavras.


Para o ilustre filósofo, o retângulo verde simboliza o gramado onde a bola é rolada pelos jogadores em busca do gol. O losango amarelo, os gabinetes, onde a bola banhada a ouro rola em busca dos bolsos e do aconchego das contas bancárias com ou sem sotaque. Amarelo também é o riso encabulado dos que tentam esconder acordos impublicáveis e explicar o inexplicável. O azul é o céu, que não tem limites para quem a ordem é o progresso de uns poucos felizardos. Vinte e sete são os atores, representados por estrelas colocadas estrategicamente dentro da bola ao centro da flâmula: 22 jogadores, 1 juiz, 2 bandeirinhas, o presidente da CBF e, em destaque - acima da tal “ORDEM e PROGRESSO"- o presidente da FIFA. “Ao povo, as batatas" Nada que os represente. Nada que eles decidam ou de que participem, a não ser opiniões sobre penteados e coisas insignificantes, como insignificante são os torcedores para os cartolas.


No Brasil, portanto, a bola reina absoluta. Nos campos e fora deles. A Copa de 2014 - mera disputa esportiva - é tratada nos mais altos escalões da República com o sigilo característico dos assuntos de segurança nacional, como se fosse uma guerra de verdade. Grana alta que poderia ser empregada na construção de escolas, hospitais e estradas, será aplicada em obras faraônicas e supérfluas, se não forem desviadas para fins menos nobres. Somente com o dinheiro que se gastará na ARENA DAS DUNAS poderiam ser construídos mais de 80 hospitais de primeira linha, ou mais de 3.000 apartamentos de 120 m², com varanda gourmet, tão em moda entre a sociedade do tal Plano Palumbo. Se preferisse, o governo poderia asfaltar 700 quilômetros de estradas. Isto só no Rio Grande do Norte.


“A nível de Brasil", o custo da Copa 2014 ultrapassará um ano de arrecadação da famigerada e falecida CPMF. Prédios serão demolidos sem que se atente para a necessidade de preservação do patrimônio histórico e arquitetônico. Leis serão alteradas, princípios basilares das licitações desprezados, tudo em prol de um evento que haverá de mudar a história da Nação, no dizer de autoridades interessadas, os suspeitos de sempre. No fim, a culpa será do gandula, já que os mordomos estarão trancados nos gabinetes de luxo, servindo champanhes e uísques tão envelhecidos quanto velhos são os truques e desculpas esfarrapadas dos seus patrões.


Mas, ora bolas... De que serve minha indignação? O futebol é o ópio do povo. E o dinheiro é a mola (ou seria a bola?) do mundo. Taí Pelé - com seu paletó vermelho de cobrador do Santander - que não me deixa mentir. Então, deixemos correr a bola. A grama do Machadão já foi arrancada. E a grana já está brotando há muito tempo e haverá de dar belas notas verdes, embora manchadas de sangue dos tolos contribuintes a quem se negam educação, saúde e segurança, em troca de noventa minutos de embriaguez e alienação.


Éééééééééééééééééééééé do BRASIL!!!!!!!!!!!

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