sexta-feira, 12 de abril de 2013

ESPÉCIE AMEAÇADA

Oglobo

Nova espécie de porco-espinho é descoberta no Nordeste


Nova espécie de porco-espinho é descoberta no Nordeste: Coendou speratus
Foto: Divulgação

RIO - Restam apenas 2% da cobertura original de Mata Atlântica, na sua porção nordestina, acima do Rio São Francisco. Metade das espécies de árvores praticamente desapareceu. A floresta está dividida em pequenos fragmentos, e o porte das árvores vem diminuindo. A situação é ainda mais dramática em relação às árvores frutíferas: 2/3 foram extintos. Sem alimento suficiente, muitos animais não conseguem sobreviver. Especialistas calculam que metade das espécies de mamíferos sumiu da região, grande parte sem nenhum registro científico. Por isso, a recente descoberta de uma nova espécie de porco-espinho (Coendou speratus) é motivo de comemoração entre os pesquisadores.

O nome científico atribuído ao bicho revela sua importância simbólica. Em latim, speratus significa esperança, explica Antonio Rossano, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) especialista em mamíferos que liderou o trabalho. A expectativa é que a descoberta marque o fim do processo de desaparecimento de espécies. Para isto, é fundamental recompor a cobertura vegetal e ligar os fragmentos de mata hoje isolados. 

Além disso, os pesquisadores esperam que haja um incremento das pesquisas para não apenas descrever novas espécies como também aumentar o conhecimento científico acerca do bioma.

— Estamos falando de uma das regiões mais ameaçadas da Mata Atlântica. A preocupação é que estamos perdendo inúmeras espécies que sequer são descritas pela ciência. E, ainda hoje, continuamos encontrando várias espécies novas. Esperamos, e por isso o nome científico speratus, que este porco-espinho chame a atenção do mundo para a preservação desta mata —diz Rossano.

O animal tem hábitos noturnos, e ocorre na mesma região em que há outro tipo de porco-espinho, mas um pouco maior: C. prehensilis. Ele vive dentro dos oito mil hectares de pequenos fragmentos de mata preservados da Usina Trapiche.

— O C. speratus é noturno. De dia fica dormindo em partes ocas de troncos de árvores. 

Ainda não temos muita informação sobre seus hábitos, mas sabemos que ele come o dendê. Muitos animais tiveram que adaptar sua dieta com frutos de árvores exóticas, introduzidas pelo homem, como é o caso do dendê, que veio da África trazido pelos escravos — explica Rossano. 

— Esse porco-espinho é predador de frutos. Ou seja, essas sementes que os animais comem não germinam. Na natureza, não podemos ter apenas os dispersores, é preciso de equilíbrio. O C. speratus contribui para este equilíbrio.

A descrição do porco-espinho foi publicada na última sexta-feira na revista “Zootaxa”. Além dos especialistas da UFPE, o trabalho mobilizou pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), estes responsáveis pela análise genética. Além disso, o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) e a Usina Trapiche, que mantém importantes fragmentos de floresta, apoiaram a iniciativa. A descoberta fez parte de um estudo de cinco anos que contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil).



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