quarta-feira, 11 de maio de 2011

EDUCAÇÃO PÚBLICA



Geraldo Batista
geraldobaatistaaraujo@gmail.com 


Fui professor do primeiro, segundo e terceiro graus. Ainda tenho saudades dos meus alunos e alunas da quarto ano ginasial como se chamava na década de sessenta. Sempre fui muito exigente. Certa vez, no final do mês de maio, chamei duas irmãs minhas alunas e avisei que elas precisavam estudar muito mais para não serem reprovadas. A mais velha me perguntou: “O senhor teria coragem de reprovar duas cunhadas do Secretário de Educação do Município?" Se ele fosse meu aluno e não estudasse eu o reprovaria também. No final do ano, ambas foram reprovadas. Citei esse fato para lembrar que antigamente o ensino público era levado a sério.
Hoje, o professor finge que ensina, o aluno faz de conta que aprende. Para mim, um dos grandes culpados pela derrocada de nossa educação é a remuneração paga a um professor. Na década de oitenta, acompanhei a rotina de um professor que lecionava em dois colégios e em um cursinho, onde era famoso pelas suas excelentes aulas. Ele tinha que sair correndo de um colégio para outro, não tinha tempo de preparar aula e muito menos de corrigir deveres e provas. Ele me disse: “Quem me mantém de verdade é o cursinho onde eu ganho muito mais.” Enquanto um vereador em Natal custa ao erário mais de cinquenta mil reais por mês, um professor não ganha nem 5% disso.
Antigamente, o aluno tinha que se esforçar muito para passar, hoje é preciso pistolão para ser reprovado. Um aluno da oitava série de uma escola pública não sabe ler, no máximo soletra e não entende o que está lendo. (Na noite do dia 10 de maio último, a Globo provou essa realidade pedindo a um aluno pra ler um pequeno texto e ele disse que não sabia ler) Muitos estudantes concluem um curso superior na Universidade e não sabem interpretar um texto em língua portuguesa. Quando a Professora Eleika Bezerra foi Secretária de Educação do Município de Natal, me solicitou que organizasse um concurso público e exigisse que os candidatos interpretassem uma frase. A frase era: “O bem se paga com o bem e o mau com a justiça”. (Confúcio). Setenta por cento dos candidatos foram eliminados porque não entenderam a frase.
Tem coisa mais grave ainda. Há anos, a cidade exibe cartazes e faixas anunciando: “Conclua o primeiro e segundo gau (sic) em um mês” O erro de concordância já diz tudo.
Tive a curiosidade de me informar como funciona o milagre de se ensinar em um mês o que a escola regular leva sete anos. O interessado paga trezentos reais (preço de 2009), recebe uma apostila com perguntas de múltipla escolha com o devido gabarito e no final do mês, vai até João Pessoa fazer o exame, cujas provas contêm as perguntas que ele recebeu para decorar. Se o candidato tiver a ousadia de ser reprovado em uma das matérias terá outra chance de repetir somente aquela prova. As autoridades e os Conselhos Estaduais de Educação sabem dessa aberração, mas não tomam nenhuma providência. Quem está por traz dessa maracutaia? Segundo fui informado o gênio que criou esse curso milagroso é o senhor João Carlos di Genio, apontado pela Revista Veja como o maior cafetão de Brasília, famoso por levar inúmeras meninas de programa para deputados inescrupulosos aprovarem suas falcatruas.
A presidente Dilma precisa seguir o exemplo de Bismarck quando unificou a Alemanha. Reuniu os ministros e declarou: “Meus Mestres Escolas vão fazer uma revolução para transformar a Alemanha numa grande Nação.”  Nem precisa lembrar que os tigres asiáticos também se transformaram através de uma educação de primeiro mundo. Nem precisa ir muito longe, a educação pública no Chile é muito melhor do que a nossa.



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