quinta-feira, 4 de abril de 2013

PROTESTO DO CONSUMIDOR

 O Estado de S.Paulo

Cantina italiana tira o tomate do menu em protesto contra a inflação

SÃO PAULO - Apesar da larga presença do tomate na culinária italiana - do filé à parmegiana à pizza mussarela, passando pela bruschetta - a tradicional cantina Nello's, de São Paulo, resolveu banir o alimento do seu cardápio. A mudança radical no menu está explicada em um cartaz na porta de entrada, onde o proprietário, Augusto Melo, manifesta seu protesto contra a inflação. "Em respeito à nossa história, nos recusamos a aceitar a alta exagerada de preços o tomate".

O preço do tomate no atacado, na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), chegou a R$ 4,11 o quilo em fevereiro, o dobro de valor em fevereiro do ano passado. Logo após a Páscoa, o preço saltou para R$ 9,00 no atacado e já chega a R$ 12 nos supermercados.
"Para uma cantina italiana, este tipo de situação é extremamente desagradável, mas temos um compromisso com preços justos para a nossa clientela", justifica Augusto Melo. Segundo ele, a caixa de tomates de 20 quilos custa normalmente entre R$ 20 e R$ 35, mas na semana passada chegou a R$ 180 no mercado atacadista. Ele costuma comprar uma tonelada de tomates por semana para servir cerca de 200 refeições por dia durante a semana e 400 aos sábados e domingos.
O proprietário da cantina, que funciona há 38 anos no bairro de Pinheiros, divulgou um manifesto no Facebook com a explicação de que o boicote ao tomate vai continuar enquanto os preços não voltarem ao normal. Mais de 500 internautas haviam manifestado apoio ao protesto até a tarde desta quarta-feira.
"Nem nos tempos de hiperinflação os preços variavam tanto e de forma tão brusca", desabafa o empresário. Segundo ele, não existe explicação aceitável para a alta dos preços. "O que mais preocupa é que os preços jamais voltam ao nível anterior depois da elevação", reclama. Ele contesta a postura do governo Dilma em relação ao assunto: "O governo insiste que devemos trocar um pouco de inflação para termos crescimento, mas preferimos ficar sem mercadoria a repassar um aumento abusivo para os nossos clientes.
Os fregueses do restaurante estão sendo orientados a trocar o filé a parmegiana pelo filé a milanesa, e o tomate não entra mais nem nas saladas. Segundo Augusto Melo, até agora ninguém reclamou. Ao serem informados dos motivos da falta de tomate, todos concordam e prometem boicotar o produto também nas compras domésticas.
O empresário defende que todos os consumidores passem a boicotar os preços que estão subindo exageradamente, inclusive na hora de comer fora de casa. "Eu saio muito para visitar outros restaurantes, para saber como está o mercado, e tenho ficado assustado com os preços que estão cobrando por aí", reclama. Segundo ele, a única forma de evitar a volta da inflação é a população se conscientizar e parar de aceitar abusos.
Feijão. A alta do preço do feijão carioquinha também provocou um protesto de outro estabelecimento comercial em São Paulo. O supermercado Joanin, de São Caetano, colocou um aviso na gôndola de cereais orientando os consumidores a optarem por outros produtos enquanto os preços não voltam ao normal. Diz o aviso: "Os preços do feijão carioca subiram muito porque os produtores reduziram a área plantada. Por isso a falta do produto. Como sugestão, troque o feijão por outros alimentos: feijão preto, fradinho, ervilha, fubá (polenta). Reduza a compra do feijão carioca. A situação deve melhorar em 30, 45 ou 60 dias". Procurada, a rede não se manifestou. 

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