Há 60 anos morria Graciliano Ramos
Nesta quarta, dia 20, completam-se 60 anos da morte do escritor alagoano Graciliano Ramos, um dos grandes da literatura nacional. Figura frequente em provas de vestibular e no Enem, o aniversário do falecimento aumenta ainda mais as chances do autor de Vidas Secas, São Bernardo e Angústiaaparecer nos testes.
O professor de Literatura do curso pré-vestibular Anglo, Marcílio Lopes Couto, ressalta a importância do tema "seca" na obra do autor, mas com uma observação. "Graciliano não criou a temática da seca; ele criou um estilo de falar sobre ela", enfatiza.
Segundo o professor, esse estilo era, em semelhança ao assunto preferido, seco. "Ele tinha uma grande capacidade de dizer muito com poucas palavras, enxugando as frases ao máximo", explica.
Apesar do tema abordado, as obras de Graciliano eram mais amplas e, no fundo, versavam sobre o ser humano e suas limitações. Com isso, segundo Couto, sua literatura era universal, fugindo da regionalidade que cercam obras de temática semelhante.
A professora de Letras da Universidade Federal de Alagoas, Belmira da Costa Magalhães, com diversos trabalhos centrados na obra de Graciliano Ramos, também aponta a universalidade como uma das principais características do autor: "A partir de uma regionalidade, a escrita de Graciliano se torna universal", comenta. Para ela, os temas abordados pelo autor ainda são muito atuais, ponderando sobre a opressão aos trabalhadores e a problemática dos grandes latifúndios. "Graciliano mostrou que o problema da seca não é só climático, mas de poder; alguns se beneficiam dela", analisa.
Belmira ainda destaca outras produções literárias do autor que podem ser cobradas em exames além dos principais romances, como crônicas, contos e relatórios políticos - Graciliano foi um influente político de esquerda, inclusive sendo preso pelo governo de Getúlio Vargas em uma reação à Intentona Comunista de 1935. Prefeito de Palmeira dos Índios (AL) entre 1928 e 1930, já dava indícios da veia artística: em documento de prestação de contas ao governo estadual, escreveu, com tom irônico, sobre a iluminação municipal.
A obra do alagoano mais frequentemente cobrada em testes é Vidas Secas. "Tem uma profunda penetração psicológica das personagens", diz o professor Couto. A história apresenta uma família de retirantes do sertão brasileiro vivendo em condições sub-humanas, enfrentando a seca e a fome. É nesse quadro de dificuldades combatido pelas personagens que Graciliano consegue desnudá-las psicologicamente. Couto vê aí outro fator importante da obra: o aprofundamento da figura do sertanejo foi, para a época (o livro foi publicado originalmente em 1938), algo ousado, pois o homem do sertão era, até então, um "ser inferior" em relação aos homens dos grandes centros urbanos. Dar tamanha importância aos seus sentimentos foi um considerável avanço proporcionado por Graciliano.
São Bernardo também é apontado pelos especialistas como um forte candidato a aparecer no vestibular. Além das características gerais do autor, Belmira relata que essa obra "mostra o que o poder é capaz de fazer com as pessoas", abordando questões como coronelismo, poder patriarcal e a mulher e seu lugar na sociedade. São Bernardo faz um forte questionamento social e psicológico, escancarando as desigualdades da sociedade brasileira e nordestina a partir de um "relato confessional": após o suicídio da esposa Madalena, o personagem principal, Paulo Honório, faz um registro autobiográfico da história de sua ascensão a dono da Fazenda São Bernardo, dos seus problemas conjugais e da dureza da vida no sertão.
Couto alerta que as obras de Graciliano Ramos podem aparecer em outras matérias, e não apenas em Literatura. Como as problemáticas da seca são ainda atuais no Brasil, o professor conta que é quase banal o autor ser referência para a prova de geografia. Pelas publicações e atuação política na Era Vargas, é possível também que apareça algo no campo da História, aponta.
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