Enem: analistas cobram 'intervenção' federal para salvar ensino médio
Para mudar essa realidade, que já é verificada em outras avaliações - como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) -, especialistas em educação consultados pelo Terra apontam para a necessidade de uma intervenção federal no ensino médio. De acordo com o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, 92% das matrículas da rede pública hoje são de responsabilidade dos Estados, que a cada ano apresentam mais dificuldades em ampliar os investimentos na área.
O professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) defende a necessidade de o Ministério da Educação (MEC) ampliar seu enfoque, muito mais voltado ao ensino universitário, para a educação básica. "O governo (federal) precisa liderar o processo de mudança no ensino médio, assumindo um papel que não tem feito nos últimos anos". Ele ainda vai além ao sugerir que os institutos federais passem a dar suporte às escolas da rede estadual.
Segundo ele, hoje o País tem cerca de 500 escolas federais, quando o ideal seria que fossem mais de 2 mil. "Os colégios federais têm desempenho muito próximo ao da rede privada. Nós já temos a fórmula, só precisamos ampliar", defende. Segundo ele, como os investimentos para aumentar a rede são elevados, seria fundamental que essas escolas já instaladas estabelecessem uma espécie de "tutoria" à rede estadual, oferecendo apoio pedagógico e capacitação.
A diferença das escolas federais está no salário e na formação dos professores - boa parte com mestrado e doutorado - e também no perfil dos estudantes. A maioria das escolas contam com uma sistema rigoroso de seleção, para garantir o ingresso dos melhores alunos. Além disso, a estrutura é melhor.
Ensino noturno
Os especialistas também concordam com a necessidade de se acabar com o ensino noturno na educação básica. "Nesses dados do Enem, por exemplo, estamos comparando alunos da elite do ensino privado brasileiro com aqueles que trabalham o dia inteiro e à noite vão para a escola. É muita diferença", alerta o professor da USP. Para Alavarse, é preciso construir uma política federal que garanta o suporte aos estudantes para que não precisem trabalhar até a conclusão do ensino médio.
Enem 2011
O desempenho das escolas na edição de 2011 do Enem foi divulgado na quinta-feira e pode ser consultado no site do MEC. Segundo o levantamento, das pouco mais de 10 mil escolas analisadas, 47,62% eram privadas. A maior parte dos estudantes que prestaram o exame (83,86%) tem renda familiar per capita entre um e cinco salários mínimos (de R$ 622,00 a R$ 3,1 mil).
De acordo com o MEC, a média das escolas privadas ficou em 596,2 pontos. Já as escolas da rede pública alcançaram 474,2 pontos. Entre as 100 primeiras colocadas no levantamento, apenas dez são públicas.
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