sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ENEM

Portal Terra

Enem: analistas cobram 'intervenção' federal para salvar ensino médio

O desempenho das escolas brasileiras na edição de 2011 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apontou, mais uma vez, o abismo que separa o ensino privado das escolas públicas no Brasil. Enquanto a média dos colégios particulares ficou em 596,2 pontos - em uma escala até 1 mil - a rede pública alcançou 474,2 pontos. Das 100 melhores, dez são públicas, sendo que apenas duas são ligadas à rede estadual, que representa a maioria das matrículas no ensino médio.
Para mudar essa realidade, que já é verificada em outras avaliações - como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) -, especialistas em educação consultados pelo Terra apontam para a necessidade de uma intervenção federal no ensino médio. De acordo com o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, 92% das matrículas da rede pública hoje são de responsabilidade dos Estados, que a cada ano apresentam mais dificuldades em ampliar os investimentos na área.
"Muitos (Estados) não conseguem nem ao menos cumprir com o mínimo de salário aosprofessores (Lei do Piso), imagina investir em estrutura, em capacitação?", diz o especialista. Segundo ele, cabe ao governo federal a decisão política de ampliar os investimentos em educação e dar suporte aos Estados para melhorar o ensino.
O professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) defende a necessidade de o Ministério da Educação (MEC) ampliar seu enfoque, muito mais voltado ao ensino universitário, para a educação básica. "O governo (federal) precisa liderar o processo de mudança no ensino médio, assumindo um papel que não tem feito nos últimos anos". Ele ainda vai além ao sugerir que os institutos federais passem a dar suporte às escolas da rede estadual.
Segundo ele, hoje o País tem cerca de 500 escolas federais, quando o ideal seria que fossem mais de 2 mil. "Os colégios federais têm desempenho muito próximo ao da rede privada. Nós já temos a fórmula, só precisamos ampliar", defende. Segundo ele, como os investimentos para aumentar a rede são elevados, seria fundamental que essas escolas já instaladas estabelecessem uma espécie de "tutoria" à rede estadual, oferecendo apoio pedagógico e capacitação.
A diferença das escolas federais está no salário e na formação dos professores - boa parte com mestrado e doutorado - e também no perfil dos estudantes. A maioria das escolas contam com uma sistema rigoroso de seleção, para garantir o ingresso dos melhores alunos. Além disso, a estrutura é melhor.
Para Castioni, não é necessário federalizar todas as escolas de ensino médio, mas sim apoiar essas instituições, assumindo um papel que os Estados hoje não conseguem cumprir. "Temos um grande desafio colocado, principalmente pelo fato de que em um espaço curto de tempo, 50% dos alunos das universidades serão provenientes rede pública (por causa da Lei de Cotas). Se não encararmos a melhoria da qualidade do ensino, vamos receber alunos com muitas deficiências", analisa.
Ensino noturno
Os especialistas também concordam com a necessidade de se acabar com o ensino noturno na educação básica. "Nesses dados do Enem, por exemplo, estamos comparando alunos da elite do ensino privado brasileiro com aqueles que trabalham o dia inteiro e à noite vão para a escola. É muita diferença", alerta o professor da USP. Para Alavarse, é preciso construir uma política federal que garanta o suporte aos estudantes para que não precisem trabalhar até a conclusão do ensino médio.
Enem 2011
O desempenho das escolas na edição de 2011 do Enem foi divulgado na quinta-feira e pode ser consultado no site do MEC. Segundo o levantamento, das pouco mais de 10 mil escolas analisadas, 47,62% eram privadas. A maior parte dos estudantes que prestaram o exame (83,86%) tem renda familiar per capita entre um e cinco salários mínimos (de R$ 622,00 a R$ 3,1 mil).
De acordo com o MEC, a média das escolas privadas ficou em 596,2 pontos. Já as escolas da rede pública alcançaram 474,2 pontos. Entre as 100 primeiras colocadas no levantamento, apenas dez são públicas.

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