O choro do senador
Há poucos dias assistiu-se ao vivo pela televisão a uma cena patética do senador por São Paulo Eduardo Suplicy, quando na tribuna desabou em choro convulsivo, por uma carta encaminhada pelas filhas de José Genoino pela condenação no STF, no processo do mensalão.
Como ser humano, respeito seus sentimentos, quando a missiva deixaria qualquer um de nós embargado também, principalmente tratando-se de filhas dirigindo-se para um pai. Não pretendo ser algoz, mas entendo que os problemas de um país de nossa dimensão mereçam ter uma maior reflexão e atenção do que temas estritamente privados. Deveria, sim, preocupar-se com outros problemas brasileiros, que estão ocorrendo exatamente pela roubalheira praticada. Aí, sim, era de se chorar, pelos efeitos diretos e indiretos que ocorrem na população, através de maus serviços praticados, pela insegurança, pela falta de maiores recursos, pela falta de investimentos na educação e na saúde. Senador, eu choro também todas as vezes que vejo notícias do tipo:
- Quando o Brasil é considerado o segundo maior mercado consumidor de drogas do mundo;
- Quando diariamente morrem brasileiros sofridos, implorando e mendigando atendimento nas portas dos hospitais, por falta de recursos surrupiados pela corrupção.
Choro por:
- 1,7 milhão de crianças ceifadas no ventre materno, que poderiam alegrar nossos parques, nossos lares, nossas escolas, por abortos praticados todo ano;
- 240 mil famílias dilaceradas pelo divórcio egoísta de casais que se separam por falta de amor, onde os filhos ficam perdidos neste mundo de adultos loucos e irresponsáveis;
- 800 milhões que estão passando forme no mundo;
- morte de um ser humano a cada seis segundos, o que corresponde a 5,5 milhões por ano, por falta de um prato de comida que outros rapinaram no mundo, através da sonegação, corrupção, disputas políticas, prepotência do deus mercado ou ainda alimentos desviados para outros fins industriais desnecessários e até para atender à vaidade e luxo de outros milhões que tiveram a chance de viver;
- 13 milhões de brasileirinhos subnutridos que vão dormir com fome por não terem o suficiente para comer, enquanto 50% da população brasileira absurdamente estão além do peso ideal;
- viver num país tão injusto, tão desigual, com tantas riquezas materiais com tantas potencialidades onde a produção de alimentos daria e sobraria para toda a população até se empanturrar e a outra metade que sobra vender pelo mundo afora;
- milhões de jovens que fazem um esforço danado estudando, neste mundo de competição capitalista, mas que não conseguem um emprego mínimo, destruindo seus sonhos por uma vida digna.
Finalmente, choro de vergonha ao ver tantas frivolidades legislativas em questiúnculas minoritárias e ridículas, esquecendo-se das questões nacionais urgentes que este país necessita resolver, como reforma tributária, reforma política, Código Florestal justo, Código Penal e outros que estão nas gavetas do Congresso, aguardando na geladeira das pautas para serem discutidos.
*Sergio Sebold, professor, é economista
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