Um novo fôlego para os pulmões
Voltar a ter fôlego para andar, falar e desempenhar atividades diárias normalmente. A expectativa parece pouco ambiciosa para pessoas saudáveis, mas pode ser um enorme ganho para pacientes com doenças pulmonares, entre elas a asma grave e o enfisema pulmonar. Pesquisas utilizando células-tronco com foco nestas doenças foram desenvolvidas pela UFRJ e começarão a ser testadas em breve em humanos.
A ideia básica é que células inseridas no pulmão doente possam regenerar os danos do tecido pulmonar, melhorando a qualidade de vida dos pacientes, sem, por enquanto, curá-los totalmente. Estudos nestas áreas podem representar uma esperança para milhões de pessoas: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 235 milhões sofrem de asma, doença crônica mais comum entre crianças; e 64 milhões convivem com Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (DPOC), grupo que abrange o enfisema.
Neste último caso, o experimento contará com a parceria de três universidades. A PUC-Curitiba, que mantém um centro de produção de células-tronco, será responsável por fornecer o material; a UFRJ ajudará com o expertise; enquanto que a UFRGS será a sede da pesquisa. No Sul, já são realizados implantes de válvulas nos pulmões de pacientes com enfisema. No entanto, o tratamento não é totalmente eficiente, explica a chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar da UFRJ, Patrícia Rocco:
— Com a instalação das válvulas, o que acaba ocorrendo é uma ventilação colateral, ou seja, o pulmão que foi excluído pelo equipamento continua ventilando com o pulmão bom, e isto pode gerar um certo nível de roubo de ar. Outro problema é que a válvula pode levar a inflamações pulmonares.
Células para regenerar tecido pulmonar
Na experiência, antes das válvulas pulmonares serem instaladas, serão acrescentadas as células-tronco. A expectativa dos pesquisadores é, com isso, diminuir a rejeição do organismo à válvula e reduzir a quantidade de bactérias, já que as células-tronco são agentes bactericidas. Outra tentativa, ainda mais ousada, será colocar apenas as células-tronco nos pacientes, esperando que as áreas mais afetadas dos pulmões sejam regeneradas.
A pesquisa depende da aprovação do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A previsão é que ela seja iniciada até janeiro de 2013, e que dez pacientes sejam acompanhados por um ano. Por isso, a própria pesquisadora afirma que é preciso conter a ansiedade.
— Ainda não há prazo para doentes terem acesso ao tratamento. E mesmo que seja bem-sucedido, não acredito que isso será uma resposta por muitos anos. Isso porque é possível desacelerar a progressão do enfisema, mas o agente agressor já foi dado, não tem como reverter. Este é o mesmo problema de outras doenças, como a fibrose, a silicose, a asma de difícil controle. Elas são contínuas — afirmou.
Um processo parecido será testado em pacientes com asma grave, ou seja, que não respondem a nenhuma outra terapia e figuram nas estatísticas como os 8% com risco de morte. Neste caso, serão injetadas células-tronco por meio intravenoso, esperando uma reconstrução do pulmão. Iniciado em 2010, o estudo teve que ser revisto, já que pacientes com asma são hiper-reativos, ou seja, mais sensíveis aos tratamentos. Bem sucedida em ratos, a técnica também aguarda aprovação para teste em humanos.
“A CÉLULA-TRONCO NÃO É a cura do mundo”
Mesmo com pesquisas de células-tronco em andamento, a Patrícia é cautelosa ao avaliar as chances de sucesso de tratamentos.
— A célula-tronco não é a cura do mundo. Ela é uma perspectiva de que no futuro possa gerar, sim, uma melhora da qualidade de vida das pessoas e, quiçá, se eu ainda estiver viva, realmente curar algumas doenças pulmonares — sentencia. — Quero que aquele paciente internado todo mês diminua o índice de internação; que aquela bombinha a cada duas horas seja administrada a cada oito horas. Isso que estamos buscando, e isso não tem preço.
Ela diz ter havido uma euforia, no início dos anos 2000, quando começaram as pesquisas.
— A terapia celular foi um boom, principalmente nas áreas cardiovascular e neurológica. Alguns pacientes tiveram melhora, mas a resposta não foi tão positiva como se esperava, aí foi preciso voltar atrás. Hoje estamos notando que a técnica precisa ser lapidada, o tratamento de uma determinada doença depende do tipo de célula e da forma como é injetada.
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