quarta-feira, 27 de julho de 2011

CORRUPÇÃO: MAL ENDÊMICO OU MAU COSTUME ?


Ailton Salviano
Geólogo (UFPe) /Jornalista (UFRN)


Antes da difusão dos meios de comunicação de massa, as notícias que vazavam para o povo sobre corrupção de políticos eram tímidas e mais pareciam lendas urbanas que fatos verídicos. Eram tempos de murmúrios tímidos que diziam respeito ou suspeitavam de alguns parlamentares que amealharam grandes patrimônios. Era muito comum ouvir-se de quem não desejava se comprometer: “O político fulano é muito rico, nasceu em berço de ouro, não precisa roubar !”


            Reações a atos corruptos eram tão raras que algumas delas tornaram-se históricas. Ainda na Primeira República, o jornalista Ruy Barbosa chocou a sociedade ao denunciar o presidente Deodoro da Fonseca, da malversação de dinheiro do Banco do Brasil em favor de uma determinada redação. Se nos dias atuais temos fotos, filmagens, gravações sonoras de atividades corruptas e o povo dificilmente se manifesta, imagine nos velhos tempos quando as comunicações eram limitadíssimas.

            No passado, os corruptos aproveitavam-se da comunicação incipiente; hoje, da impunidade. Diante disso, a cultura da corrupção disseminou-se no nosso país e tem atingido níveis inimagináveis. Infiltrado em todos os aspectos da vida pública, esse mau costume tornou impraticável a realização de negócios oficiais sem a presença da propina, do suborno. Apesar de, ultimamente, todas as artimanhas arquitetadas por corruptos tenham vindo a público com detalhes, eles continuam atuando e criando novas formas. Mesmo flagrados, negam tudo.

            Além de fomentar a miséria, os agentes corruptores são um entrave ao desenvolvimento socioeconômico. Os pagamentos ilícitos efetuados a funcionários corruptos podem elevar os custos das empresas que muitas vezes são obrigadas a negociar com tais agentes. Ao contrário do que pensam esses agentes passivos da corrupção, estudos realizados nessa área demonstram que os benefícios que eles auferem de forma ilegal são bem inferiores àqueles dos seus corruptores.

            E enquanto cresce o custo dos negócios com a ciranda indecorosa da corrupção, a sociedade presencia inerte e indefesa a diminuição dos serviços e dos bens que lhes são disponíveis. Esse é o resultado de ações aparentemente inofensivas à sociedade como um todo, que começa na propina paga a um simples funcionário público para a liberação de algo e excepcionalmente, chega às barras dos tribunais com a compra de sentenças.

            Os organismos internacionais que estudam as causas e as conseqüências da corrupção costumam associá-la a regimes totalitários e ditatoriais. No Brasil, a corrupção campeia mesmo num regime democrático. No “ranking” mundial estabelecido pelo Indicador de Percepção de Corrupção, o país de Macunaíma está lado a lado com países da África Sub-Saariana de onde, segundo estudos da Universidade de Massachusetts (USA), houve nos últimos anos por conta da corrupção, uma fuga de capital da ordem de 187 bilhões de dólares.

            Não tenho dúvidas que entre os principais responsáveis pela violência urbana, as injustiças sociais e a dilaceração da família e da sociedade estão os que corrompem e os que são corrompidos. No dizer de David Nussbaun, da Transparência Internacional: “a corrupção não é um desastre natural, é um furto frio e calculado da oportunidade de homens, mulheres e crianças”.

            

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