segunda-feira, 10 de junho de 2013

ÍNDIOS E QUILOMBOLAS


É claro que, no Brasil, se tornou heresia discutir essa onda meio ridícula em torno de direitos originais de indios e quilombolas. Seria assunto para muita conversa. De minha parte, faço apenas uma pergunta despretensiosa e uma modesta reflexão. 

Primeiro, a pergunta: quem nasceu índio, por exemplo, será considerado índio ao longo de quantas gerações? Quantos séculos? Eu, por exemplo, sou bisneto -- na linha materna -- de um casal de portugueses. Na linha paterna, não. Sou português? E os meus filhos? Os meus netos? Os meus bisnetos? Todos portugueses?

Agora, a reflexão: se não há limites, nem de tempo e nem do número de gerações para que alguém se declare pertencente a uma determinada raça ou a qualquer grupamento humano, e se a prova dessa condição, é assim, no grito, como estamos fazendo no Brasil (até importando índios dos países vizinhos para engrossar esse grito), então o que aconteceria se alguém reivindicasse para si um pedaço da Itália, a Toscana inteira, alegando que é etrusco? Isto é, que descende dos etruscos - um povo que, antes do império romano, antes de Cristo, ocupou praticamente toda a área da Toscana, entre os rios Arno e Tibre.

Esse "etrusco" de araque levaria uma vantagem muito importante sobre os nossos índios. Basta comparar as duas situações. Os nossos índios reivindicam uma determinada área e simplesmente afirmam que aquilo é deles. Por que? Porque é, ora! É deles e pronto. 

Já o nosso "etrusco"pode mostrar a riqueza do rastro precioso que os seus ancestrais deixaram: pinturas e afrescos, esculturas extraordinárias, cerâmica de alta qualidade, peças oficialmente reconhecidas como produzidas pelos etruscos e que provam (sem necessidade de grito) que eles ocuparam aquele território. Aplicando-se a mesma lógica da nossa política indigenista, se alguém aparece dizendo-se etrusco e berra que os seus pluriavós eram os donos dali, tem sem dúvida direito a converter a Toscana em uma "reserva" etrusca, não é?

A imagem que estou mostrando hoje é da "Quimera de Arezzo", escultura etrusca, que está hoje em Florença. Se aparecer um dia esse etrusco, tem muito como documentar a presença dos seus ancestrais, da sua "familia" naquela região da Itália. Portanto, terá os mesmos argumentos históricos e morais que sustentam essa nossa política para índios, cujas reservas ocupam hoje mais de 11% de todo o território do Brasil (por enquanto).

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