sábado, 16 de março de 2013

O GRITO DA SECA


Recebi um email do amigo Hugo Tavares militante permanente da luta pela água da região Potengi-Trairi.
Seguidor fiel do Mons. Expedito, a voz mais contundente e eficaz em defesa do acesso, das populações desta regiões, à água de boa qualidade e suficiente para abastecer a todos.
Transcrevo com orgulho, neste espaço, pois também lutei durante anos por estas conquistas.

Dia 22 de Março e o “BERRO pela ÁGUA”

                                                                                                   Hugo Tavares Dutra(*)

Esse mês de  março do ano de  2013 é tempo crucial para o campo. O dia 19 é  marcado pela esperança, uma vez que os agricultores depositam todas as suas fichas em São José, para que as chuvas cheguem. Caso chova, acontece um ano bom de inverno, o que  nos revela o imaginário popular. A meteorologia e seus técnicos dizem  diferente: nesse ano de 13, o inverno será menor  40% em relação ao ano de 2012. Independente ou não de datas e crenças começam  a ser delineadas as imagens de uma das piores secas dos últimos 50 anos. Isso é um fato. Diante desse quadro a sociedade Potiguar começa a se mobilizar. As instituições ligadas ao campo já começam a botar o nariz nas veredas do sertão. A grita começa por São Paulo do Potengi. Nesse dia 13 de março, realizou-se um ato público chamado “grito pela água”, puxado por uma gama de instituições, como o movimento rural  Arquidiocese  de Natal, FETARN, FETRAF, Movimento Água para Todos, ABRAÇO POTIGUAR (Associação de Rádios Comunitárias), entre outros. A imprensa do estado começa a noticiar esses movimentos. Repercutiu nas páginas do Jornal a Tribuna do Norte,  blogs, Rádios Comunitárias, etc. Esse sentimento aparentemente tem uma conotação de ser do campo, mas não, é urbano também. Esse movimento  é uma bandeira de cidadania fincada no solo Potiguar, ainda no século passado (XX), através da ação espetacular do Mons. Expedito Sobral de Medeiros, Coordenador da “Campanha Como Conviver com a Seca”, com auspícios da Arquidiocese de Natal. O movimento das águas acontecido no início dos anos 90 foi vitorioso. Desde a sua primeira grande reunião acontecida no dia 23 de março de 93, em Santa Cruz,  que o povo do Rio Grande do Norte sentiu e aprendeu a importância de se lutar pela causas justas e do engrandecimento da alma humana. Nesse dia 23 de março no bronze da história será cunhado 20 anos dessa luta.
 O exemplo de Mons. Expedito foi edificante,  mesmo passadas essas duas décadas, ele ainda está vivo, cobrando soluções para os  problemas da falta dágua em nosso estado. Diga-se que o problema não é  falta dágua, mas sim, falta de administração dos governantes. Vejamos: a barragem Armando Ribeiro Gonçalves alocada no município de Assú tem  capacidade de armazenar 4.400.000.000m³ dágua e pra quê? Faz-se imperativo fazer a pergunta. Pra quê? Segundo informações de entendidos no assunto somente 3% da capacidade daquele reservatório é utilizada para algum fim: Levar água para o baixo Assú  pelo canal do Pataxó, abastecer a adutora Sertão Central  Cabugí e para a pesca,  somente.  A barragem Santa Cruz do Apodi: 600.000.000m³. Pra quê? A comunidade do Vale do Apodi espera pelos projetos de irrigação e até agora nada.  Existem vários outros mananciais sem utilização nenhuma  no Rio Grande do Norte.
       Nesses novos tempos em que a luta do Mons. Expedito começa a ser reeditada pelo campo e cidades, reforço a ideia de se construir um canal com as finalidades de irrigação e abastecimento humano para as regiões do Mato Grande e Potengi. Esse sugestão  de se  construir um canal saindo do município de Itajá, interligado  no canal do Pataxó, para o Pico do Cabugi em Angicos e de lá para Serra Azul no município de Riachuelo.
Desses dois relevos naturais a água seria ofertada por gravidade, e por sua vez o Potengi, recebendo água para irrigação e para o consumo humano, sairia do abastecimento que ora é feito pela  adutora Mons. Expedito, dessa forma, desafogando  o abastecimento para as regiões Agreste/Trairi, que é feito pela Loga do Bomfim em Nísia Floresta. Tenho consciência plena que essas ideias ainda estão no nascedouro, mas tenho convicção de que muitos corações e mentes  serão sensíveis a essas esperanças.
      O problema da seca no Nordeste não é  falta dágua,  e sim, falta de administração e determinação política para resolver as agruras da estiagem.
        Água no Nordeste existe em grande quantidade. A indústria da seca é quem camufla  a sua existência franca  no nordeste brasileiro.  São muitas as adversidade, entre elas a  falta do educação do nosso povo.  A CAERN e o SAAE e todos os órgãos que ofertam água tem uma responsabilidade para com as comunidades que são abastecidas por elas. Não basta só abastecer e mandar a conta no final do mês. É preciso educar também, investindo na introdução de hidrômetros nas torneiras e na formação do povo. Nas escolas essa matéria sobre água é tímida, quase não exite nas grades curriculares. Afinal a água é para o povo e o povo, claro,  é quem a conta paga. A presença do carro pipa é uma constatação da indústria da seca,  mesmo  assim, as pessoas ainda não tem consciência de que a água é um bem findo e gastam de todo jeito. Como se diz na gíria popular a torto e a direta.
        Nesse 22 mês de março é comemorado o dia Internacional das águas. É um ótimo dia para se refletir sobre esse bem findo  da humanidade. O dia seguinte, o dia  23,  é aniversário da primeira grande reunião acontecida em Santa Cruz. Já se foram 20 anos. Nesse dia, no ano de 1993, o  Monsenhor Expedito plantou a semente da cidadania em defesa da água para quem tem sede e pela solidariedade que devemos ter pelos povos pedintes de um copo dágua no Nordeste, do Brasil e do mundo.
A obra da transposição de águas do Rio São Francisco precisa ter solução  de continuidade. Milhares de Nordestinos serão beneficiados com a conclusão dessa obra, que causará um impacto em torno de 20%  no combate à seca. As políticas de construção de cisternas deverão continuar,  poços tubulares,  açudagem,  construção de canais, barragens submersas, irrigação, etc.  A seca é um fenômeno natural, por isso o homem deve aprender a conviver com ela. A classe política do nosso país precisa entender melhor esse contexto e responder com atitudes  permeadas  de vontade política e de compromisso para  com todos.
            A sociedade deve se organizar mais ainda. Nesse dia 19 de março (dia de São José) haverá em Santa Cruz, mais um agito da água, onde as políticas públicas  serão temas debatidos com a participação de professores, estudantes, imprensa, escolas, universidades, sindicatos, igrejas, donas de casas, agricultores, políticos, etc. Cada um deverá  se irmanar num grande sentimento de unidade. Os governantes deverão ter papel fundamental nesse processo.
O povo deverá ser o condutor de toda essa engrenagem, afinal 2014 é ano de eleições e antes que a copa do mundo cobra todos com o seu véu, o dono da bola ainda é o povo.
        Nesse ano de 2013, em qualquer reunião que acontecer não será preciso determinar  que “não seja servida água a ninguém” para que todos  sintam o que é não ter água pra beber”.
O tempo é inclemente. Ele mesmo  anunciou.
Cabe a nós   agir e avançar.
Cada um  tem que fazer a sua  parte.
Viva Mons. Expedito Sobral de Medeiros.

(*)Pedagogo, funcionário do IBGE,
presidente da ABRAÇO POTIGUAR,
 membro do Movimento Água Para Todos
 - Um Expeditiano.



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