Recebi um email do amigo Hugo Tavares militante permanente da luta pela água da região Potengi-Trairi.
Seguidor fiel do Mons. Expedito, a voz mais contundente e eficaz em defesa do acesso, das populações desta regiões, à água de boa qualidade e suficiente para abastecer a todos.
Transcrevo com orgulho, neste espaço, pois também lutei durante anos por estas conquistas.
Dia 22 de Março e o
“BERRO pela ÁGUA”
Hugo Tavares Dutra(*)
Esse mês de março do ano de 2013 é tempo crucial para o campo. O dia 19
é marcado pela esperança, uma vez que os
agricultores depositam todas as suas fichas em São José, para que as chuvas
cheguem. Caso chova, acontece um ano bom de inverno, o que nos revela o imaginário popular. A
meteorologia e seus técnicos dizem diferente:
nesse ano de 13, o inverno será menor
40% em relação ao ano de 2012. Independente ou não de datas e crenças
começam a ser delineadas as imagens de
uma das piores secas dos últimos 50 anos. Isso é um fato. Diante desse quadro a
sociedade Potiguar começa a se mobilizar. As instituições ligadas ao campo já
começam a botar o nariz nas veredas do sertão. A grita começa por São Paulo do
Potengi. Nesse dia 13 de março, realizou-se um ato público chamado “grito
pela água”, puxado por uma gama de instituições, como o movimento rural Arquidiocese
de Natal, FETARN, FETRAF, Movimento Água para Todos, ABRAÇO POTIGUAR
(Associação de Rádios Comunitárias), entre outros. A imprensa do estado começa
a noticiar esses movimentos. Repercutiu nas páginas do Jornal a Tribuna do
Norte, blogs, Rádios Comunitárias, etc.
Esse sentimento aparentemente tem uma conotação de ser do campo, mas não, é
urbano também. Esse movimento é uma
bandeira de cidadania fincada no solo Potiguar, ainda no século passado (XX),
através da ação espetacular do Mons. Expedito Sobral de Medeiros, Coordenador
da “Campanha Como Conviver com a Seca”, com auspícios da
Arquidiocese de Natal. O movimento das águas acontecido no início dos anos 90
foi vitorioso. Desde a sua primeira grande reunião acontecida no dia 23 de
março de 93, em Santa Cruz, que o povo
do Rio Grande do Norte sentiu e aprendeu a importância de se lutar pela causas
justas e do engrandecimento da alma humana. Nesse dia 23 de março no bronze da
história será cunhado 20 anos dessa luta.
O exemplo de
Mons. Expedito foi edificante, mesmo
passadas essas duas décadas, ele ainda está vivo, cobrando soluções para
os problemas da falta dágua em nosso
estado. Diga-se que o problema não é
falta dágua, mas sim, falta de administração dos governantes. Vejamos: a
barragem Armando Ribeiro Gonçalves alocada no município de Assú tem capacidade de armazenar 4.400.000.000m³
dágua e pra quê? Faz-se imperativo fazer a pergunta. Pra quê? Segundo
informações de entendidos no assunto somente 3% da capacidade daquele
reservatório é utilizada para algum fim: Levar água para o baixo Assú pelo canal do Pataxó, abastecer a adutora
Sertão Central Cabugí e para a
pesca, somente. A barragem Santa Cruz do Apodi:
600.000.000m³. Pra quê? A comunidade do Vale do Apodi espera pelos projetos
de irrigação e até agora nada. Existem
vários outros mananciais sem utilização nenhuma no Rio Grande do Norte.
Nesses novos tempos em que a luta do
Mons. Expedito começa a ser reeditada pelo campo e cidades, reforço a ideia de
se construir um canal com as finalidades de irrigação e abastecimento humano
para as regiões do Mato Grande e Potengi. Esse sugestão de se
construir um canal saindo do município de Itajá, interligado no canal do Pataxó, para o Pico do Cabugi em
Angicos e de lá para Serra Azul no município de Riachuelo.
Desses
dois relevos naturais a água seria ofertada por gravidade, e por sua vez o
Potengi, recebendo água para irrigação e para o consumo humano, sairia do
abastecimento que ora é feito pela
adutora Mons. Expedito, dessa forma, desafogando o abastecimento para as regiões
Agreste/Trairi, que é feito pela Loga do Bomfim em Nísia Floresta. Tenho
consciência plena que essas ideias ainda estão no nascedouro, mas tenho
convicção de que muitos corações e mentes
serão sensíveis a essas esperanças.
O problema da seca no Nordeste não é falta dágua,
e sim, falta de administração e determinação política para resolver as
agruras da estiagem.
Água no Nordeste existe em grande
quantidade. A indústria da seca é quem camufla
a sua existência franca no
nordeste brasileiro. São muitas as
adversidade, entre elas a falta do
educação do nosso povo. A CAERN e o SAAE
e todos os órgãos que ofertam água tem uma responsabilidade para com as
comunidades que são abastecidas por elas. Não basta só abastecer e mandar a
conta no final do mês. É preciso educar também, investindo na introdução de
hidrômetros nas torneiras e na formação do povo. Nas escolas essa matéria sobre
água é tímida, quase não exite nas grades curriculares. Afinal a água é para o
povo e o povo, claro, é quem a conta
paga. A presença do carro pipa é uma constatação da indústria da seca, mesmo assim, as pessoas ainda não tem consciência de
que a água é um bem findo e gastam de todo jeito. Como se diz na gíria popular
a torto e a direta.
Nesse 22 mês de março é comemorado o dia Internacional das águas. É um
ótimo dia para se refletir sobre esse bem findo
da humanidade. O dia seguinte, o dia
23, é aniversário da primeira
grande reunião acontecida em Santa Cruz. Já se foram 20 anos. Nesse dia, no ano
de 1993, o Monsenhor Expedito plantou a
semente da cidadania em defesa da água para quem tem sede e pela solidariedade
que devemos ter pelos povos pedintes de um copo dágua no Nordeste, do Brasil e
do mundo.
A obra da transposição de águas do Rio São
Francisco precisa ter solução de
continuidade. Milhares de Nordestinos serão beneficiados com a conclusão dessa
obra, que causará um impacto em torno de 20%
no combate à seca. As políticas de construção de cisternas deverão
continuar, poços tubulares, açudagem, construção de canais, barragens submersas,
irrigação, etc. A seca é um fenômeno
natural, por isso o homem deve aprender a conviver com ela. A classe política
do nosso país precisa entender melhor esse contexto e responder com atitudes permeadas de vontade política e de compromisso para com todos.
A sociedade deve se organizar mais
ainda. Nesse dia 19 de março (dia de São
José) haverá em Santa Cruz, mais um agito
da água, onde as políticas públicas
serão temas debatidos com a participação de professores, estudantes,
imprensa, escolas, universidades, sindicatos, igrejas, donas de casas,
agricultores, políticos, etc. Cada um deverá
se irmanar num grande sentimento de unidade. Os governantes deverão ter
papel fundamental nesse processo.
O
povo deverá ser o condutor de toda essa engrenagem, afinal 2014 é ano de
eleições e antes que a copa do mundo cobra todos com o seu véu, o dono da bola
ainda é o povo.
Nesse ano de 2013, em qualquer reunião
que acontecer não será preciso determinar
que “não seja servida água a ninguém” para que todos sintam o que é não ter água pra beber”.
O
tempo é inclemente. Ele mesmo anunciou.
Cabe
a nós agir e avançar.
Cada
um tem que fazer a sua parte.
Viva
Mons. Expedito Sobral de Medeiros.
(*)Pedagogo,
funcionário do IBGE,
presidente
da ABRAÇO POTIGUAR,
membro do Movimento Água Para Todos
- Um Expeditiano.
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