sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O MUNDO NÃO SE ACABOU

Oglobo

Cientistas dizem que planeta só chega ao fim em bilhões de anos, mas alertam para riscos


Guerreiro asteca. A profecia do fim do mundo é maia, mas todos os sítios pré-hispânicos no México têm programação especial para esta sexta-feira
Foto: Victor Ruiz/ Reuters

RIO - Nesta sexta-feira, 21 de dezembro de 2012, o mundo supostamente acabaria, segundo diversas profecias apocalípticas baseadas em um antigo calendário maia, cultura da América Central pré-hispânica. Isso não acontecerá, garantem cientistas. Não agora, pelo menos. O planeta só acabará mesmo dentro de alguns bilhões de anos, sustentam. Os especialistas contam que previsões catastróficas são recorrentes na História da Humanidade, mas que a globalização torna o mundo mais vulnerável e, portanto, mais suscetível a elas.

Na virada do primeiro milênio da era cristã, o pânico do apocalipse tomou vilas da Europa medieval e, mil anos depois, apesar de todo desenvolvimento científico e tecnológico do período, o medo continuava, desta vez do chamado “bug do milênio”. Outros casos recentes incluem o LHC, acelerador de partículas responsável por uma das maiores descobertas científicas do ano, o bóson de Higgs, que muitos achavam que criaria um buraco negro que sugaria a Terra quando entrasse em operação; o asteroide Apophis, que segundo cálculos iniciais teria remotas chances de se chocar com o planeta em 2029; e o cometa de Halley, cujos “gases venenosos” de sua cauda exterminariam a vida na Terra na sua passagem em 1910.

— Uma coisa que todas as previsões apocalípticas têm em comum é que são falsas. Elas nunca se concretizam — resume Stephen O'Leary, professor da Universidade do Sul da 

Califórnia e especialista neste tipo de fenômeno cultural.

Isso não impede, no entanto, que alguns cientistas levem a sério o estudo destas teorias do fim do mundo. Mas não por razões místicas. Sua preocupação é com eventos relativamente pequenos que podem adquirir contornos cataclísmicos devido à complexidade de nossa atual civilização — majoritariamente urbana, dependente de longas cadeias de suprimento de alimentos, água e energia. Segundo eles, um choque, mesmo que de proporções menores, pode fazer toda essa estrutura desabar.

Nos piores cenários imaginados, milhões de pessoas morreriam, a economia entraria em colapso e civilizações desapareceriam, mesmo que o planeta — e os humanos como espécie — sobrevivessem. É o caso, por exemplo, de uma grande tempestade solar como a que atingiu o planeta em 1859. Naquela época, tudo o que ela provocou foram choques em operadores de telégrafo e imensas auroras boreais e austrais. Hoje, poderia destruir nossa infraestrutura de geração e distribuição de energia, causando um longo blecaute que poderia deixar várias regiões do planeta sem eletricidade durante anos. Não há, no entanto, nenhuma tempestade solar desse porte prevista a curto prazo; os especialistas falam em teoria.

— Muitas coisas em nosso mundo estão interconectadas, e isso realmente nos deixa vulneráveis — lembra Jocelyn Bell Burnell, astrofísica da Universidade de Oxford.

Entre 1918 e 1919, a Gripe Espanhola matou de 20 a 50 milhões de pessoas. Se algo semelhante surgisse hoje, com o intenso tráfego aéreo, as estimativas são de que haveria cerca de 200 milhões de mortes. Outra grande preocupação recente são as mudanças climáticas, já apontadas como causa de algumas das maiores extinções em massa vistas dos últimos 500 milhões de anos (saiba mais ao lado). A maior frequência de eventos climáticos extremos, como secas, pode levar ao colapso a agricultura, espalhando a fome pelo mundo. A lista de ameaças em consideração segue com o impacto de um asteroide capaz de destruir uma grande cidade ou um conflito nuclear regional, que mesmo limitado a 100 bombas como a de Hiroshima, poderia causar um “inverno nuclear”. Nada, no entanto, que se assemelhe ao apocalipse maia.

Para o fim do mundo mesmo, falta muito. Daqui a 5 bilhões de anos, por exemplo, o Sol entrará em uma nova fase de sua vida, progressivamente se expandindo e ficando mais quente à medida que se torna um gigante vermelho. Então, nossa estrela deverá incinerar ou até mesmo “engolir” a Terra. Já daqui a 22 bilhões de anos, a aceleração da expansão do Universo poderá levar ao rompimento da estrutura do espaço-tempo, e daqui a 10 elevado a 100 anos (um número tão grande que escrevê-lo por extenso tomaria todo este parágrafo) o Universo deverá entrar em total equilíbrio termodinâmico, impossibilitando a produção de energia e, consequentemente, a vida.



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