quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CASA DE FERREIRO ESPETO DE PAU

Panorama Brasil


Guerra inédita no Judiciário coloca Supremo versus CNJ


Brasília - Inédito nos anais da Justiça brasileira, há uma guerra em curso entre o Conselho Nacional de Justiça e o Supremo Tribunal Federal.

A corregedoria do CNJ iniciou em novembro uma devassa no Tribunal de Justiça de São Paulo para investigar pagamentos que magistrados teriam recebido indevidamente junto com seus salários e examinar a evolução patrimonial de alguns deles, que seria incompatível com sua renda.

Um dos pagamentos que estavam sendo examinados é associado à pendência salarial da década de 90, quando o auxílio moradia que era pago apenas a deputados e senadores foi estendido a magistrados de todo o País.

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, reagiu, divulgando nota em que nega que tenha sido beneficiado com a decisão que suspendeu a inspeção feita pelo CNJ (na folha de pagamento do Tribunal de Justiça de São Paulo. "As providências determinadas pela corregedoria do CNJ, objeto do referido mandado de segurança, à míngua de competência legal e por expressa ressalva desta, não abrangem a minha pessoa ou a de qualquer outro ministro deste tribunal", diz Lewandowski. 

Mas a guerra continua: reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que Lewandowski recebeu pagamentos sob investigação, feitos a todos os desembargadores da corte por conta de um passivo trabalhista da década de 1990. 

Antes de ir para o STF, ele foi desembargador na corte paulista. Na segunda-feira (19), último dia antes do recesso, o ministro atendeu a pedido de associações de juízes e deu liminar sustando a inspeção. "Eu estava em meu gabinete no STF por volta das 21 horas do dia 19, último do corrente ano Judiciário. Diante da ausência do relator sorteado, ministro Joaquim Barbosa, e dos demais ministros, foi-me distribuído o referido mandado segurança para apreciação de pedido de liminar", afirma o ministro. 

Na terça-feira (20), por meio de sua assessoria, Lewandowski disse que, apesar de ter recebido os recursos, não se sentiu impedido de julgar porque não é relator do processo e não examinou o mérito - apenas suspendeu a investigação até fevereiro. 

"Concedi a liminar em caráter precaríssimo, tão somente para sustar o ato contestado, até a vinda das informações, as quais, por lei, devem ser prestadas pela autoridade co-atora no prazo de dez dias. Tomei a decisão, em face da amplitude das providências determinadas pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça", afirma o ministro, na nota divulgada ontem. 

Reação de Peluso

O presidente do STF, Cezar Peluso, também reagiu, com uma nota em que defende a decisão de Lewandowski. Ele próprio, ministro Peluso, que, como Lewandowski, foi desembargador do TJ paulista, recebeu recursos desse passivo. Foram R$ 700 mil. 

Peluso considera que, apesar dos recebimentos, nem ele nem Lewandowski estão impedidos de julgar ações sobre o tema porque os ministros do STF não se sujeitam ao CNJ. 

O caso

Lewandowski concedeu esta semana uma liminar suspendendo a investigação, que tinha como alvo 22 tribunais estaduais. O ministro atendeu a um pedido de associações como a AMB, que alega que o sigilo fiscal dos juízes foi quebrado ilegalmente pela corregedoria, que não teria atribuição para tanto. Lewandowski disse que não se considerou impedido de julgar o caso, apesar de ter recebido pagamentos que despertaram as suspeitas da corregedoria, porque não é o relator do processo e não examinou ou mérito.

A liminar que ele concedeu suspende as inspeções programadas pelo CNJ e permite que o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, volte a examinar a questão em fevereiro, quando o STF voltará do recesso de fim de ano.

A guerra teria começado em novembro, quando a corregedoria do CNJ iniciou a devassa no TJ de São Paulo para investigar pagamentos que alguns magistrados teriam recebido indevidamente junto com seus salários e examinar a evolução patrimonial de alguns deles, que seria incompatível com sua renda.

Um dos pagamentos que estão sendo examinados é associado a uma pendência salarial da década de 1990, quando o auxílio moradia que era pago apenas a deputados e senadores foi estendido a magistrados de todo o país.

O ministro disse que o próprio STF reconheceu que os desembargadores tinham direito à verba, que é declarada no Imposto de Renda. Ele afirmou que não há nada de irregular no recebimento. A corregedoria afirmou, por meio de nota, que não quebrou o sigilo dos juízes e informou que em suas inspeções "deve ter acesso aos dados relativos à declarações de bens e à folha de pagamento, como órgão de controle, assim como tem acesso o próprio tribunal". No caso de São Paulo, a guerra prosseguiu com a decisão do Supremo de esvaziar os poderes do CNJ suspendendo investigações sobre o patrimônio de cerca de 70 pessoas, incluindo juízes e servidores do TJ. Liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello impede que o conselho investigue juízes antes que os tribunais onde eles atuam analisem sua conduta -o que, na prática, suspendeu todas as apurações abertas por iniciativa do CNJ.

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