segunda-feira, 4 de abril de 2011

SALVAMENTO DE ADEMAR JOSÉ - 1958

Enviado por Eduardo Alexandre Garcia


Salvamento dramático na Pedra da Bicuda
José Alexandre Garcia
In Gol de Placa, Editora Clima, Natal, 2002

Matutinos e vespertinos de ontem divulgam o agradecimento comovido da família de José Magi de Oliveira a quantos, duma forma e de outra, contribuíram para o salvamento do menor Ademar José. 

Os jornais já descreveram o quadro emocionante de mais de uma centena de banhistas, numa beira de praia, tentando salvar a vida de uma criança, de maneiras que, a este comentarista, pouco sobra para dizer, senão que o dr. Antônio Soares, numa lembrança muito feliz, idealizou perpetuar, num bronze, aquele gesto heróico e ao mesmo tempo profundamente humano de alguns, desafiando até mesmo a fúria dos elementos, para que um menino fosse restituído são e salvo ao seio da sua família. 

A rodada do Pâmpano estava por terminar. A maré enchia e o forte vento que soprava deixava ficar nas pedras somente os pescadores mais renitentes. Súbito, uma onda mais forte se avoluma em direção à pedra onde estava, em companhia de seu pai, de aficionados da pesca e de pequenos colegas, o garoto Ademar José. Há a natural debandada diante da fúria do mar. Todos se safam, menos o jovem pescador, que, no afã de se livrar, tropeçou e caiu num precipício. 

Passada a refrega, todos voltam aos seus postos. Magi dá pela falta do garoto. É quando Luís G. M. vê uma mão surgir duma fenda de pedra, a cerca de cinco metros do local onde se encontravam. É a mão do pequeno Ademar, que levado pela correnteza nadava sem rumo e sem saber o que fizesse, na escuridão daquele lajedo, quando vislumbrou aquela pequena fenda. 

Como tirar o menino daquele precipício? Impossível ir buscá-lo, porque um homem não poderia passar. Dinamitar a pedra, também impossível. Fazê-lo retornar pelo caminho por onde fora, perigoso, porque uma nova onda poderia surpreendê-lo no trajeto o e sacudi-lo para bem longe, onde não houvesse mais possibilidade de salvação. Cordas foram tentadas, mas nenhuma chegava até onde o garoto se encontrava. O recurso era quebrar a pedra para retirá-lo de lá. 
Dito assim, parece fácil. Mas era preciso quebrar aquele bloco maciço à picareta, maromba, talhadeira e outros instrumentos assim, e com muito cuidado para não ferir o garoto. Quem conhece a Circular, sabe o que estou dizendo. Era também um trabalho que poderia redundar em pura perda. 

E a preamar se aproximava. Mais meia hora e meia e ninguém poderia permanecer ali, com o mar açoitando as pedras. Restavam poucos minutos para salvar a criança, se é que esta poderia ser salva. Ou, então, abandoná-la a uma morte terrível. 

Inicia-se então a grande batalha. Pescadores do Pâmpano, soldados do Anti-Aéreo, banhistas que estavam na Circular para o seu banho despreocupado dos domingos, amigos e desconhecidos do sr. José Magi de Oliveira ­ povo em geral por assim dizer - uniram-se no esforço para salvar Ademar José. 
Uns trabalham, outros rezam, terceiros choram, alguns desesperam. 
Mas Deus quis. Após uma hora e dez minutos, alarga-se a fenda mais um pouco e Ademar José vê novamente o céu, contempla o rosto de seu pai e de seus amigos que estão rindo e chorando e sobretudo beija o rosto já inundado de lágrimas de sua mãe. 

Era o Milagre. 

O dr. Antônio Soares escreveu a seguinte legenda para o bronze que o Pâmpano certamente colocará naquele local: "Aqui, na manhã de 13 de abril de 1958; reuniram se em torno de uma criança, o Milagre, a Fé, a Aflição, a Coragem, a Renúncia, o Dever, o Heroismo e a Solidariedade Humana. Homenagem do Pâmpano Esporte Clube. 

O Poti, 18 de abril de 1958

2 comentários:

  1. Bom dia. Eu sou o garoto do acidente. Essa placa foi destruída, não sei se pelo tempo ou por depredação. No ano de 2008, para comemorar os 50 anos do .dacidente, eu mandei fazwer uma placa igual e fixei-a no local na presença de um dos participantes do evento, o falecido Cap Cleanto Siqueira. Também reuni num almoço todos os participantes do salvamento que ainda estavam vivos.

    ResponderExcluir