FRANÇOIS SILVESTRE Escritor
Seria melhor sem lição. Um bom inverno, com nuvens prenhas, chão
molhado, feijão enramando, milho bonecando, gado gordo, ancoreta de
férias, armazém de barro batido varrido de piaçava, jerimum maduro,
melancia fofa, preás atravessando a estrada, açudes vomitando água
pela sangria, barulho de água na telha tecendo a madrugada, cheiro de
barro úmido, curimatãs desovando, jitirana florada, marmeleiro
cheirando, mororós virando estaca, sabiás cantando dobrado,
mané-de-barro com porta da casa para o poente, catolés caindo de
amarelos, juás crescendo, ingás inchando, cuscuz de milho novo,
véspera de canjica e pamonha.
Com inverno, assim descrito, nem dava para descobrir as farsas
institucionais. Lembram da história das adutoras? Um governo de oito
anos declarou que era o pai das águas e que não haveria mais carros
pipas. Era tanta adutora que cercava o Estado num tecer de canos e
água jorrando.
Depois veio outro governo de oito anos e declarou que
fizera mais adutoras do que o antecessor. Não havia mais lugar pra
botar cano.
Tudo muito bom se não fosse fantasia. A seca deste ano desmoraliza a
propaganda feita. Os jumentos guarnecidos de ancoretas voltaram às
veredas do sertão. Os carros pipas começam a oferecer serviço. Os
viciados na moleza da “emergência” iniciam a listagem, contando com
uma graninha extra.
O atropelo expõe a lição. Melhor não aprender.
Bem melhor seria não
descobrir que o socialismo da esmola tem desfibrado ainda mais o já
esgarçado tecido social do sertão, cantado e decantado como terra de
honra e dignidade.
Honra e dignidade entrando pelos canos de onde não saem as águas. E
tudo se resolve ou se pretende resolver com o dinheiro derramado na
compra de votos.
Ética de miçanga. Fiscais cegos de luz.
A reforma agrária? Veja como foi feita: o INCRA comprou terras a preço
de ouro, de fazendas falidas, distribuiu entre posseiros, de forma
descriteriosa. Os “fazendeiros” foram embora pra cidade. Muitos dos
assentamentos são redutos de negócios escusos. E onde não há
fiscalização, os assentados negociam os lotes.
Houve casos de ocupação
de terras estimulada pelos proprietários, que simulavam reintegração
de posse de faz de conta. Porque o preço de mercado não atingia metade
do que pagava o INCRA. Não houve reforma agrária, houve especulação
fundiária.
O quilo do feijão de corda igual ao preço do quilo da carne de
primeira. Onde anda o programa governamental de estoque de sementes?
Os tempos são outros, mas a seca escancara o descaramento dos tempos
novos.
Onde anda o polo irrigado do Apodi, que daria para alimentar o Estado
e exportar a sobra?
Só o inverno conseguia camuflar essa realidade. A falta dele tira a
roupa do rei.
Té mais.
Muio bom, completa justamente o que eu quero expressar, já que sou apenas mais um que já viveu os dois lados dessa moeda, tanto a sêca como as enchentes. portanto, tudo isso é de conhecimento (Deles)mais não fazem nada. E agora? até quando senhores?
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