Folha
Teixeira recebeu de suspeita, diz polícia
A Polícia Civil em Brasília encontrou cheques de R$ 10 mil ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, emitidos por Vanessa Precht, uma das sócias da empresa suspeita de ter superfaturado amistoso da seleção brasileira. O jogo foi bancado por R$ 8,5 milhões em dinheiro público.
Os cheques foram encontrados no ano passado no computador de Vanessa, numa busca e apreensão feita em seu apartamento pela polícia. Também houve operações na sede da empresa.
Um contrato entre Vanessa e Teixeira de março de 2009, menos de quatro meses após jogo, estabelece um arrendamento da fazenda dele para a sócia da Ailanto.
Pelo documento, obtido pela Folha, ela deveria pagar R$ 10 mil mensais pelo aluguel da terra que poderia explorar. O contrato foi mostrado pela TV Record em 2011.
O acordo é válido por cinco anos. Ou seja, totalizaria um pagamento de R$ 600 mil dela para o dirigente.
Cedida a Vanessa, a Fazenda Santa Rosa 3 tem 920 mil m² e foi comprada por Teixeira em 2003. Seu endereço é a estrada Hugo Portugal, 11.505, em Piraí, a cerca de 80 km do Rio de Janeiro.
Fica ao lado da fazenda Santa Rosa original, também de Teixeira, na estrada Hugo Portugal, 13.300. Nesse local, funcionava a VSV Agropecuária e Empreendimentos Ltda, também de Vanessa, como revelou ontem a Folha.
Funcionários da fazenda negam que houvesse outra empresa ou administrador no local além de Teixeira. É ele que aparece como gestor da Agropecuária Santa Rosa, que opera a fazenda.
Com a descoberta dos cheques nominais emitidos por Vanessa, a polícia concluiu que há um vínculo entre Teixeira e a Ailanto Marketing.
O presidente da CBF sempre negou relação com a empresa. Alegava que essa era apenas a responsável pela organização do amistoso entre Brasil e Portugal em 2008.
A confederação, como entidade privada detentora dos direitos da seleção, cedeu o jogo a agências de marketing, que os repassaram à Ailanto.
A empresa tem como sócios Vanessa Precht e Sandro Rosell, presidente do Barcelona e amigo íntimo de Teixeira.
Os cartolas têm relação próxima desde que Rosell comandou a Nike no Brasil.
Criada em maio de 2008 com capital de R$ 800,00, a Ailanto fechou contrato com o governo do Distrito Federal no final do mesmo ano para organizar a partida.
O acordo era de R$ 9 milhões, mas a empresa recebeu R$ 500 mil a menos, segundo prestações de contas.
A Polícia Civil encontrou indícios de superfaturamento nas diárias dos hotéis da seleção brasileira e de Portugal, com valores quase duas vezes acima dos de mercado.
A Federação Brasiliense de Futebol ainda pagou boa parte dos gastos do jogo, realizado no estádio Bezerrão.
INVESTIGAÇÃO
Em Brasília, a investigação atua em duas frentes. Na parte civil, o Ministério Público do DF cobra da Ailanto a devolução do dinheiro do governo distrital, à época comandado por
José Roberto Arruda, afastado por outro caso de corrupção. A Polícia Civil faz a investigação criminal.
Não houve indiciamentos, e o caso está sob sigilo.
As investigações em Brasília, contudo, sofreram um revés no fim do ano passado. O promotor responsável pelo caso, Albertino de Souza Pereira Neto, morreu após um acidente de carro, e a Promotoria retomou o processo apenas na semana passada.
DATAS
Fato é que, oito dias antes do amistoso, a Ailanto criou uma empresa, VSV, com sede na fazenda de Teixeira.
E, três meses depois da partida, Vanessa Precht assinou contrato com Teixeira para pagá-lo pela fazenda.
O acordo ainda prevê que o arrendamento poderia ser renovado por períodos de mais um ano. E também estabelece que o contrato continua válido mesmo com possível venda da fazenda.
Para rescindi-lo, era preciso anuência das duas partes.